domingo, 30 de agosto de 2015

“DEVIR”, da “Espaço Liso Cia. de Dança”



“DEVIR”, da “Espaço Liso Cia. de Dança” com coreografia, concepção e direção de Ewertton Nunes, será apresentado hoje, no Teatro Atheneu, às 21, no Festival Sergipano de Artes Cênicas 2015 com entrada franca.

O projeto tenciona dar continuidade à pesquisa da companhia em aproximar a dança contemporânea de outras linguagens tais como o teatro e o audiovisual. Esteticamente inspirado na filmografia do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o espetáculo extrai das narrativas dos seus filmes, a essência de personagens complexas que agem impulsionadas pelos desejos e que por eles são modificadas o tempo inteiro, num devir constante da vida onde a morte seria o limite desse processo. Nessa perspectiva, as transformações aconteceram dentro e fora das personagens. Trazendo à tona reflexões sobre gênero, condutas morais, violências e limites éticos. O espetáculo deixa no ar algumas provocações: Vale tudo pelo desejo? Eu serei o mesmo no instante seguinte? Até que ponto a liberdade não é violenta?

Um espetáculo forte cenicamente, poético e elaborado para gerar reflexão filosófica sobre transformação permanente dos seres para o seu máximo ou para o seu mínimo, como a água que congela ou derrete. Os intérpretes dançam a transitoriedade do presente frente aos acontecimentos, o presente como uma consequência do passado e um processo para o futuro que começa no segundo seguinte. A predominância de cores fortes no cenário, figurino e iluminação faz alusão ao estado bruto dos sentimentos humanos, dos desejos intensos. Projeções e elementos de cena dão poesia à encenação. A ideia de “corpos-líquidos” foi aplicada na concepção coreográfica com finalidade de comunicar o transitório, o adaptável dos corpos no contato com o espaço e com outros corpos e outras sensibilidades.
“Visto que a temporalidade predominante do ser é a do presente (com o passado e o futuro como seus modos deficientes), o puro devir-sem-ser significa que dever-se-ia evitar o presente –ele nunca “ocorre efetivamente”, ele é “sempre iminente e já passou”. (Gilles Deleuze)A p

A Espaço Liso Cia. De Dança dialoga com a proposta de Almodóvar quando apropria-se de outras artes para se fazer comunicar . A inserção de uma dramaturgia nos espetáculos é uma característica da Cia. desde a fundação. Devir extrai da obra do espanhol alguns dos temas de maior recorrência em sua filmografia: a traição, a obsessão, a solidão, a sexualidade transgressiva e o transformismo; as sequências com revelações, reviravoltas, crueldades, assassinatos; os fetiches sexuais , as motivações pouco convincentes e o inverossímil. Em Almodóvar o ser e não ser alternam-se na mesma aparição, de forma que é impossível fixá-los através da contradição pois eles dançam, sem parar, na margem “entre a delícia e a desgraça, entre o monstruoso e o sublime”. Devir busca o paradoxo dessa coexistência de realidades contraditórias, sem que nenhuma delas reivindique o ser de sua verdade.



O espetáculo da Espaço Liso aproxima a linguagem da dança contemporânea do universo estético do cineasta espanhol Pedro Almodóvar e do pensamento Deleuziano sobre o Devir. Devir significa a mudança constante que o ser humano passa em sua história. A palavra foi utilizada primeiramente por Heráclito e seus seguidores. A metáfora das águas de um rio, que continua sempre o mesmo, mesmo que suas águas mudem constantemente explicaria o devir . É a eterna mudança do homem, o qual todo dia é um novo ser, todo dia é diferente do dia anterior.

As personagens criadas por Almodóvar em suas obras servem para exemplificar o constante estado de transformação das coisas no contato com os acontecimentos. E a força que impulsiona esses movimentos do passado para o presente e do presente para o futuro é o desejo. Nessa perspectiva, a inspiração nos conflitos propostos pelo cineasta provocou na companhia o interesse em dançar uma obra rica em cores, conceitos, psicologia e acima de tudo transitoriedade.



"Devir é, a partir das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que se possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, entre as quais instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade e lentidão, as mais próximas daquilo que estamos em vias de tornarmos, e através das quais nos tornamos. É nesse sentido que o devir é o processo do desejo. Esse princípio de proximidade ou de aproximação é inteiramente particular, e não reintroduz analogia alguma. Ele indica o mais rigorosamente possível uma zona de vizinhança ou de co-presença de uma partícula quando entra nessa zona". (Devir em Deleuze e Guattari - Mil Platôs )



FICHA TÉCNICA

Intépretes: Catarina Andrade, Eden Brísio, Ewertton Nunes, Luanda Ribeiro, Rosana Costa, Fábio São José


Iluminação: Sérgio Robson


Sonoplastia: Dean Carregosa


Concepção, Coreografia e Direção: Ewertton Nunes


Classificação: 18 anos


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